quinta-feira, 4 de maio de 2017

MAÇONARIA E REDES SOCIAIS - UMA REFLEXÃO

As redes sociais se constituem em hábito presente na vida de todos nós, atraindo cada vez mais e mais usuários, especialmente entre jovens já nascidos na era da mobilidade digital.
Não se trata de “modismo”, mas de comportamento definitivamente incorporado na vida de um número cada vez maior de pessoas. Criou-se uma espécie de dependência dessa forma de interação interpessoal, não presencial e imediata. Em qualquer lugar e com apenas um clique pode-se entrar em contato com uma, várias ou centenas de pessoas.
Recente publicação de “O Globo” (1) dá conta de pesquisa feita na Universidade de Pittsburgh, com quase dois mil adultos americanos de idade entre 19 e 32 anos, revelando que quanto mais tempo as pessoas passam navegando por plataformas como Twitter, Facebook, Istagram, Linkedln, Whatsapp e outras, maiores são as chances de elas experimentarem uma sensação de isolamento social.


Esse é um fenômeno observado desde a década de 1.990, quando estudos começaram a constatar o chamado “paradoxo da Internet”, ou seja, a contradição entre a extrema facilidade e de se manter contato virtual com tanta gente, por intermédio das redes, e a “ausência real de contato humano”. Ou seja: mais tempo “on-line”, menos tempo no mundo real.


É compreensível, mesmo ao leigo, essa relação direta entre o aumento do uso da Internet e o isolamento. Algumas pesquisas constataram que essa prática também aumenta a sensação de angústia, ansiedade, inveja, frustração e estresse, o que torna a coisa toda um problema de saúde. Contudo, as conclusões desses estudos também apontam para o fato de que os malefícios advindos do uso das redes dependem da forma como os usuários se envolvem com essas plataformas. O que se poderia afirmar, com alguma segurança, é que, se alguém utiliza as redes para estimular e aumentar contatos reais com outras pessoas, isso será sempre saudável, do ponto de vista individual e social.
De todo modo, essa não é uma questão simples. Ao contrário, é complexa demais para ser tratada neste artigo, mesmo porque o mérito dessa questão não é o objetivo ora proposto. Também não se cogita, aqui, do uso das mídias nas relações institucionais, pois, neste ponto, a Ordem e sua estrutura organizacional se utilizam das ferramentas e tecnologias como qualquer outro empreendimento, público ou privado.

O que realmente interessa, neste artigo, é fazer algumas reflexões sobre o uso das redes sociais pelos maçons, enquanto irmãos, e as suas relações com a vida maçônica e, destacadamente, confrontar com as tradições da fraternidade e da existência necessária da Loja Maçônica, como centro de união e lugar de “encontro real” entre seus obreiros.
Nesse sentido, deve-se reconhecer, desde logo, o aspecto positivo que as redes sociais proporcionam à fraternidade maçônica, dada a rápida interação dos irmãos entre si e com as atividades da sua Loja e fora dela. Isso vale especialmente nas grandes cidades, onde a mobilidade urbana é fator que sempre dificulta encontros presenciais, os quais, por isso mesmo – e quase sempre –, acabam por se restringir às sessões maçônicas, ordinárias ou não, e eventos importantes organizados pela Loja no plano maçônico, familiar ou social.


Em algumas plataformas, como é o caso do Whatsapp, essa facilidade de interação, para além do contato individual, apresenta pelo menos duas outras vertentes bastante comuns entre os membros de uma mesma oficina: a) um grupo específico para tratar exclusivamente de assuntos afetos à administração da Loja e do seu quadro de obreiros; e, b) um ou mais grupos onde os irmãos postam livremente aquilo que lhes parece oportuno, dentro do espírito para o qual esse determinado grupo foi criado.


Nestes últimos, a boa camaradagem e mesmo o bom humor são fatores importantes para agregar e manter presente o espírito daquela fraternidade em particular.
Óbvio que as observações feitas acima não esgotam as possibilidades de uso de tais redes pelos irmãos de uma Oficina, pois não raro se expande e pode interessar a outros tantos membros de outras tantas Lojas, independentemente de suas respectivas Potências, sejam elas nacionais ou não. Nesse amplo espectro, não seria de todo equivocado reconhecer que as redes sociais, assim utilizadas por maçons, poderiam reafirmar, na prática, aquele princípio de “universalidade da instituição maçônica”, bem como o sentimento de “pertencimento a uma grande família”, cujos membros, em comum, cultivam os mesmos rituais, valores e tradições.


Está claro, também, que as redes sociais propiciam novos espaços e possibilidades na comunidade maçônica. Além disso, podem, ainda, ser utilizadas para incrementar novas metodologias na produção de atividades culturais e na elaboração de trabalhos doutrinários ou filosóficos, tudo dependendo, apenas, da criatividade dos irmãos que busquem empregá-las de forma inteligente.


Nesse sentido, a Loja Harmonia e Trabalho, 222 iniciou interessante experiência no campo da produção maçônico-cultural, criando grupos de whatsapp e de e-mail, para propor e desenvolver pesquisas sobre temas específicos (História da Maçonaria, Filosofia, Simbologia, Doutrina, Ritualismo, Práxis maçônica, ou mesmo de comentários de lições dos diversos graus). Cada grupo conta com seu respectivo coordenador, mas o planejamento da pesquisa e a divisão de tarefas são previamente definidos, de forma que cada um contribua com a parte da pesquisa que lhe cabe e apresente suas conclusões para debate com os seus pares.


A facilidade está em que a apresentação e desenvolvimento dos temas são apresentados, pela mídia, aos demais participantes do grupo, para análise, comentários e discussão, até a formatação do texto final. Com isso, as ideias são ordenadamente desenvolvidas, debatidas e compartilhadas por todos, coisa que seria bem mais difícil, caso se tivesse de marcar reuniões presenciais com os integrantes, para apresentação de resultados e o necessário debate antes da conclusão do trabalho.


Enfim, mediante essas metodologias, as redes podem ser mais um importante elemento de integração entre os irmãos, em torno da valorização da cultura maçônica, preparando ambiente pedagógico para aqueles que vierem a compor futuramente os quadros da Loja.
Desnecessário dizer que isso melhor orientará as ações do mundo profano, com base no conhecimento mais aprofundado dos princípios da nossa Sublime Instituição.


Certamente, essa ideia não é original e deve estar sendo explorada algures. Entre-tanto, o que importa encarecer é o fato de que essas novas metodologias e ferramentas virtuais se constituem, também, em mais um estímulo para aprofundar os conhecimentos da fraternidade, a par dos tantos outros métodos tradicionais e ritualísticos que fazem parte da própria essência evolutiva do ensinamento maçônico.


Para encerrar estas reflexões, cumpre retornar às considerações iniciais acerca da relação, observada por especialistas, entre o uso das redes sociais e o isolamento social. De fato, as redes aproximam as pessoas, mas, como isso ocorre de forma virtual, acaba comprometendo o envolvimento real e afetivo, se mantido apenas naquele nível superficial.


As redes vieram para ficar e são úteis e práticas para manter contatos com velhos e novos amigos, com colegas de trabalho ou com pessoas que sequer conhecemos pessoalmente, tornando tudo e todos mais próximos de nós como jamais estiveram.


“Porém estamos ajudando menos aqueles que são próximos de nós, não sabemos nomes de vizinhos e pessoas com as quais convivemos, nossa rede de relação (física) cai vertiginosamente quando ainda temos 20 anos (idade considerada como auge da juventude). Em suma estamos nos distanciando daqueles que estão perto para nos aproximarmos daqueles que estão longe.” (2)


Neste contexto, impossível não cogitar e reafirmar a existência necessária da Loja Maçônica, enquanto “tempo e lugar” de encontro entre irmãos para aprofundarem, entre si, o conhecimento recíproco, como seres humanos iniciados na Arte Real.
Definitivamente, não se concebe Maçonaria tradicional sem o “tempo-espaço” da Loja, onde os maçons se congregam e trabalham ritualisticamente. Por isso as Obediências reconhecidas internacionalmente como regulares advertem que, embora haja sites nesse sentido (Fake Masonary) (3), ninguém poderá ingressar e participar da Maçonaria pela via da internet, pois todo o processo é pessoal e exige a presença tanto na iniciação, quanto nas reuniões da Loja. (4)


A essência da Maçonaria é aproximar os “seres humanos”, condição para construir uma fraternidade. Por isso, os primeiros artigos das Constituições dos Fraco-Maçons, de 1.723, prescreveram a tolerância como virtude elementar e necessária entre pessoas que professam religiões, filosofias e ideias políticas diversas. A Loja tem sido, desde então, o lugar onde os maçons se encontram e superam suas diversidades pessoais, porque se reconhecem simplesmente como seres humanos. Esse é o motivo pelo qual a Maçonaria há de se tornar o CENTRO DE UNIÃO e meio de conciliar, por uma amizade sincera, pessoas que teriam, perpetuamente, permanecido separadas. (5)


Essa noção de encontro,que a Loja proporciona aos seus obreiros, é absolutamente fundamental para a existência da Maçonaria. É preciso estar presente, física e espiritualmente, nas reuniões maçônicas, porque é o encontro com outro ser humano que propicia a possibilidade de um aprendizado sobre nós mesmo. Nesse sentido, a melhor e mais profunda justificação que jamais ouvi sobre a verdadeira essência da Maçonaria talvez esteja nas palavras de Leo Apostel, quando afirma que:


Os Seres humanos, basicamente diferentes – i.é, diferentes social e psicologicamente, ideológica e emocionalmente – tentam encontrar-se em nível de intimidade, fora da sociedade civil, em um grupo fechado. Estas pessoas chamam a si mesmas de Maçons e utilizam vários rituais e mitos como instrumentos de suas reuniões. (6)


E essas pessoas se reúnem para uma reeducação, baseada na redução do conhecimento ao puramente humano, para depois retornar ao convívio social com um sentimento de compreensão muito mais rico e fecundo. Essa interação é elementar, porque só é possível relacionar-se com outro quando aprendo a me conhecer e, vice-versa, aprendo mais sobre mim mesmo ao relacionar-me com o outro. É em presença dos irmãos, sob seus olhares, movimentos, ações e palavras que recebo suas ideias e sou influenciado por elas.


Mas isso não retira de mim a minha liberdade e a minha individualidade. Aprimora-me!  Loja Maçônica foi, é e sempre será o “espaço” e o “momento” para os maçons se encontrarem, física e espiritualmente, cultivando suas tradições obreiras, utilizando-se de práticas rituais, símbolos e mitos, como instrumentos de aperfeiçoamento moral e social.
Em Loja, cria-se o ambiente propício para encontrar respostas que existem em cada um e em todos nós e, assim, evoluir enquanto seres humanos.


E isto, jamais será possível por outra via que não seja presencial, real e não virtual. Aqui, a internet e redes sociais são inócuas e nunca poderão substituir a verdadeira iniciação e prática maçônicas.


Por essa razão, a Maçonaria e nossas Lojas regulares são, igualmente, um porto seguro na atualidade, porque é da sua própria essência que haja o encontro pessoal, real e afetivo entre aqueles iniciados em seus mistérios, em oposição ao isolamento social, a ansiedade e estresse, que o exagerado uso das redes sociais possam eventualmente causar.

ANTONIO CARLOS BLOES, M.’.M.’.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

A IMPORTÂNCIA DO PENSAR E CONHECER-SE NA MAÇONARIA.

Todos nós aqui passamos pelo Primeiro Grau. Todos nós aqui ficamos ali, sentados em silêncio,aguçando nossos sentidos.
E se nos reportarmos ao mundo profano e fazendo uma analogia com Vida Maçônica, numa frase que muitos aqui escutaram,enquanto alunos,quando um professor dizia: “ 
Façam silêncio,senão, não irão “pegar” o fio da meada”. Em Maçonaria é a mesma coisa.
Achamos também que, quando somos convidados a ingressar nessa Nobre Arte Real, por sermos homens de bons costumes, não precisamos nos aprimorar,que não precisamos evoluir e por vezes, alguns dizem: 
“Queria ser como aquele Irmão! “ – referindo-se ao seu conhecimento em Maçonaria, mas não se esmera para tal. Pois bem, um simples exercício pode fazer a diferença: Pensar.
O Ser humano distingue-se dos demais animais pela capacidade de processamento de informações através do ato de Pensar.
Pensar é formar idéias na mente, é imaginar, considerar ou descobrir. O Filósofo René Descartes disse: 
“Com a palavra Pensar entendo tudo o que sucede em nós, de tal modo que o percebemos imediatamente por nós mesmos: portanto, não só entender, querer, imaginar, e sim também sentir é o mesmo que Pensar”. 
Pensar estabelece relações, as conceitua e encontra um significado para elas. 
Formar relações entre vários conceitos é julgar. Estabelecer o significado de vários conceitos é raciocinar. Assim o ato de Pensar implica três funções básicas: Conceituar, Julgar e Raciocinar.
O pensador mexicano Antônio Caso dizia: 
"Liberdade é pensamento. Pensamento é liberdade. Na essência do pensar está a autonomia." 
Partindo dessa última definição de que na essência do Pensar está a autonomia, na Maçonaria o ato de pensar está diretamente ligado ao postulado da Liberdade. 
Liberdade para desenvolver seus conceitos a partir dos ensinamentos recebidos, porque somos livres e autônomos para falar e assumir posições, sem afastar-nos da Filosofia Maçônica e de seus princípios.
Filosoficamente, a Maçonaria mostra ao homem-maçom que ele tem um compromisso consigo mesmo, com o seu Pensar, o que fazer de sua própria existência. 
Pois, quando o homem prescinde de si mesmo, de seus deveres, quando o homem abre mão da sua liberdade, da quantificação do seu Eu, quando o homem esquece de si próprio, está a negar-se como Ser.
Como a intenção desta prancha não é a de aprofundar a busca filosófica da Arte Real, vamos ao objetivo do Pensar e o conhecer-se na Maçonaria, especialmente ao Primeiro Grau.
O Primeiro Grau se estereotipa no “conhece-te a ti mesmo”, divisa escolhida por Sócrates. 
O grande pensador ensina ao Maçom-Aprendiz que a primeira coisa a fazer é aprender a Pensar. Aprendendo a Pensar aprende-se a conhecer, a discernir, a falar. 
Aprendendo a pensar encontraremos, sem dúvida, meios e modos que facilitam a busca, a procura, a investigação, o ponto de chegada.
Assim, nesse vai-e-vem do Pensar, nesse vai-e-vem da busca, o Aprendiz, introspectivamente, passará a conhecer-se melhor.
Conhecer é descobrir o Ser. Assim para o Aprendiz, o descobrimento do Ser é o auto conhecimento e deve levá-lo à introspecção, à análise da sua forma de vida antes da Iniciação. 
Estabelecendo a partir de então os limites entre o profano e o iniciado, corrigindo as eventuais falhas de construção de seu edifício, passando a Pensar e agir dentro dos limites estabelecidos, que pode significar simbolicamente o nascimento do novo Ser.
O Maçom estará pronto para a busca dos conhecimentos da Ordem a partir do Auto Conhecimento e da “Morte” dos resquícios contrários à Filosofia Maçônica inerentes ao profano.
“Conhece-te a ti mesmo” nos leva à conclusão de que se não praticarmos o conhecimento de nós mesmos, se não nos propusermos a esmiuçar o nosso espírito com o objetivo de melhorá-lo, com a intenção de aperfeiçoar nosso intelecto, não projetaremos em nós uma melhoria moral, não conseguiremos desbastar a Pedra Bruta. 
O Primeiro Grau é onde utilizamos com maior propriedade os sentidos da Visão e da Audição. Com eles desenvolvemos o Pensar, estabelecemos relações e comparações que formarão os alicerces do desenvolvimento e nos ajudarão nos passos seguintes da caminhada. 
Lembrando que todos iniciam na Ordem no Primeiro grau, e cada um tem seu momento de despertar, porque não existe prazo determinado para o seguimento da jornada. 
O que deve acontecer é a maturação do iniciado, uma etapa de cada vez, um degrau após o outro, e mesmo assim sem jamais deixar de ser Aprendiz, sem jamais deixar de utilizar os sentidos da visão e da audição com Sabedoria. 
Cada degrau da escada de Jacob inexiste sozinho, ele sempre será o resultado do somatório do conhecimento adquirido nos Degraus Anteriores. 
Pratique o Pensar para conhecer-se, para então buscar o diferencial, a formatação do novo Eu através do conhecimento, para a transformação, para o renascimento, para a prática da verdadeira maçonaria.
A intenção desta prancha é a de incentivar os Irmãos para o Pensar, o conhecer-se, que é em minha opinião a primeira grande Instrução do Grau, para então desbravar, investigar a verdade através da leitura, da interpretação dos símbolos e alegorias, e da troca de experiências com os outros Irmãos. 
O Pensar, nos traz a reflexão,onde através de perguntas sobre a capacidade e a finalidade humana quem movem o mundo. São perguntas que nos faz aproximar dos conhecimentos maçônicos. 
São perguntas e não respostas que nos faz evoluir. O exercício do Pensar te faz diferente, te faz Novo!
Por isso, na faça de sua vida maçônica, um conjunto de respostas, faça-a de perguntas. Só assim o seu Templo Interior terá paredes Retas, Belas e Justas. 
Portanto...Pense...Reflita...Pergunte...Evolua, pois desistir da Maçonaria é desistir de si próprio.

Autor: 

M.'.M.'.Ir.'. – Gilson Alves

Instrução apresentada em Sessão Grau 1 – 25 de maio de 2006. A .’. R.’. L.’. S.’. 

Plácido de Castro, Brasil.

Adaptação e Relator: 

M.'.M.'.Ir.'. – Ladisney Antonio Assaiante

Referência Bibliográfica: 

- Matthew Lipman – O Pensar na Educação;

- Raimundo Rodrigues de Albuquerque – Texto

- Raimundo Acreano Rodrigues –

- Pré _ Socráticos , Col. “Os Pensadores”, vol. 1, seleção de textos e supervisão do prof. Dr. José Cavalcante de Souza, São Paulo, Abril Cultural, 1978.

A DIGNIDADE DO SER HUMANO, UMA VISÃO MAÇÔNICA

Reza o ritual do Aprendiz Maçom do R.’.E.’.A.’.A.’. adotado pela Grande Loja do Estado Do Rio Grande Do Sul, que a “ maçonaria tem por fim combater a ignorância em todas as suas modalidades; é uma escola mútua que impõe este programa: (…) trabalhar incessantemente pela felicidade do gênero humano (…)”.
Mais adiante, uma frase, que particularmente reputo como uma das mais ricas e mais representativas de nossos verdadeiros objetivos: 
“ ( A Maçonaria) É uma instituição que tem por objetivo tornar feliz a humanidade, pelo amor, pelo aperfeiçoamento dos costumes, pela tolerância, pela igualdade e pelo respeito à autoridade e à religião”.
“Felicidade do gênero humano” e “tornar feliz a humanidade”. 
Não raro, em quase todas as obras e rituais maçônicos, deparamo-nos com a palavra “humanidade”. A idéia primordial do valor da pessoa humana, encontra suas origens no pensamento clássico Cristão. Na cultura judaico-cristã, notadamente no livro Gênesis, encontramos referências sobre a criação do homem “à imagem e semelhança de Deus”, premissa de que foi extraída a idéia de que todo ser humano é dotado de um valor próprio, intrínsico, ou seja, na figura de uma só pessoa humana está representada toda a humanidade.
Ao longo da história, podemos comparar a evolução da espécie humana com a idéia do que a humanidade pensa sobre sua própria condição existencial. 
No pensamento estóico, verificado nas clássicas tragédias gregas, já estava patente que o ser humano possuía uma dignidade que o distinguia das demais criaturas, no sentido de que todos são portadores da mesma, em que pese as diferenças sociais e culturais. 
Na idade média, Santo Tomás de Aquino constantemente faz apologia à divindade da “dignitas humana”. Immanuel Kant sustenta em suas diversas obras, que o homem não pode ser tratado – nem mesmo por ele próprio – como objeto, pois em si está representada toda a humanidade. Os ideais da revolução francesa, com seu tríplice “ Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, formam uma espécie de condensação de todo um pensamento filosófico produzido pela humanidade ao longo de sua existência.
O eminente Dr. Ingo Sarlet, juiz e professor de direito na PUC/RS, ensina-nos que:
“A utópica realização plena da dignidade da pessoa humana continua a ser incansavelmente buscada pelas relações sociais e jurídicas de grupos de nações e grupos de pessoas, mesmo que entre este último, inconscientes de sua própria busca”.
Quanto à característica utópica dessa busca, lembro-me vagamente das palavras de Galleano, que situa a utopia no horizonte de suas intenções. 
A cada dez passos que tenta aproximar-se desse horizonte, dez passos ele se afasta. Vinte passos, e vinte passos afastados. 
Pergunta-se: “Mas afinal, porque a busco? Qual o objetivo de sua existência, se já me convenci de que é inalcançável?” 
E responde-se: “Seu objetivo é exatamente este, obrigar-me a dar os passos.”
E a Maçonaria atual, em que ponto desta busca utópica se situa? 
Qual sua atuação no sentido de colaborar, enquanto Ordem, no reconhecimento universal da Dignidade da Pessoa Humana? 
A história é rica em relatar a participação de Maçons enquanto indivíduos, e da Maçonaria enquanto instituição, na petrificação dos ideais humanitários. A revolução Francesa, o abolicionismo da escravatura no Brasil, os diversos fatos e atos de ilustres maçons (...) são exemplos marcantes dessas intenções. 
Ao lapidar a pedra bruta em que se reconhece, o Maçom tem por dever aparar as mundanas arestas que o tornam falível enquanto indivíduo, para que em si possa espelhar todo o valor da humanidade plena. Tem por dever absoluto preparar-se para ser o ponto reflexivo de tudo que em si representa esta idéia.
Ao jurarmos:  “ … conservar-me sempre cidadão honesto e digno, (…), nunca atentando contra a honra de ninguém…”, estamos perante o Grande Arquiteto do Universo, prometendo envidar todos os esforços no sentido de valorizar um dos aspectos mais marcantes inerentes à dignidade da pessoa humana: A honra. 
Honra e Dignidade são palavras quase que sinônimas, pois encerram valores magnos pertinentes e exclusivos do ser humano.Dignidade, ou honra neste caso, são amplamente garantidas na Carta Constitutiva do Brasil, e em quase todas as Constituições do mundo livre, em suas cláusulas imutáveis, ou pétreas. 
Mas como transformar a utópica afirmativa impressa na Constituição em fatos concretos, no nosso dia a dia? Não podemos mais, a exemplo do passado, destinar o Tronco de Solidariedade para a compra e alforria de um escravo, ou fomentar revoluções libertárias no interior de nossos templos. Não podemos mais ficarmos adstritos aos Templos, enquanto lá fora a sociedade a qual pretendemos modificar através de nosso interior aperfeiçoamento, peca pela omissão quanto ao respeito a essa Dignidade.

(...) 

Mas a Maçonaria, se não esquecesse que a utopia é inatingível e não desse os primeiros passos rumo ao horizonte utópico, não teria como contabilizar entre seus feitos, uma revolução francesa, uma abolição da escravatura, e tantas outras ações tomadas a partir de um ideal humanitário. 
A nós, modernos Maçons, restam ainda muitos caminhos a serem trilhados. Se, unidos tal nossa simbólica Cadeia de União, agregarmos esforços conjuntos e reconhecermos nosso papel na luta pela Dignidade da Pessoa Humana em termos contemporâneos, ou seja: a garantia à vida, à saúde, à alimentação, à moradia, e à uma existência plena, estaremos justificando às gerações maçônicas passadas, e quiçá, às futuras, nossa razão de existir.
A proposta atual, e factível, é a educação da geração vindoura. Que nossas Lojas, nossos Maçons, (...) possam trabalhar valores que, num contexto a médio e longo prazo, farão a diferença na plena, e aí sim, concreta, valorização da Dignidade da Pessoa Humana. 

Que assim seja.

Autor: 

Ir.’. Marcio Ailto Barbieri Homem

Adaptação e Relator: 

M.’.M.’.Ir.’. – Ladisney Antonio Assaiante

terça-feira, 15 de setembro de 2015

ILUMINISMO NA MAÇONARIA

Diz à história que as dificuldades que Maçonaria Operativa passava, em meados do Século XVII, em especial na Inglaterra, estavam levando a Ordem à decadência.
Como medida de sobrevivência, os maçons operativos começaram a recrutar membros da intelectualidade, nobreza e de posses econômicas.

Consolidou-se, assim, no Século XVIII (1717-1724), a Franco-Maçonaria composta por cérebros que não faziam parte da Instituição do Artesanato, porém eram dotados de requisitos morais, intelectuais e econômicos, sendo aceitos pelos Irmãos Operativos que simbolizavam o passado maçônico.
Esses novos Irmãos foram chamados de “aceitos”. Estava, pois, implantado o departamento especulativo ao lado do outro operativo. Mas a unidade da Ordem foi preservada em todos os sentidos.

E com o ingresso desses irmãos “aceitos”, oriundos em grande parte do Iluminismo, a influência era mesmo de se esperar na Instituição, especialmente no âmbito especulativo, geomântico ou ainda teórico.

Não demorou muito e nasceram os Altos Graus, de 4 a 33, os Graus Filosóficos, sendo que para alguns especialistas o Grau 3 (Mestre-Maçonaria Azul ) foi criado em 1725, pouco depois da Constituição do Bispo Anglicano James Anderson de 17 de janeiro de 1723 que consolidou a Maçonaria Especulativa.

Os Landmarks, por sua vez, foram estudados, classificados e ordenados por diversos estudiosos maçônicos, até que em meados do Século XIX, Albert Galletin Mackey – 1807-1881, compilou-os, formando uma “Super Constituição Maçônica Universal”. 
É, sem dúvida, a codificação mais aceita pelas diversas Obediências com os 25 princípios imutáveis e inalteráveis.

A influência do Iluminismo na Maçonaria é evidente, principalmente, quando examinamos as matérias que versam sobre as prerrogativas do Grão-Mestrado.
Trata-se da Administração da Entidade que, em caso excepcional, pode o Grão-Mestrado autorizar a proposta e recepção de um candidato. Essa prerrogativa emana da experiência dos políticos de Iluminismo que ingressaram na Ordem, objetivando, em tempos conturbados, que a direção tenha instrumentos eficazes para debelar, ou pelo menos, minimizar as dificuldades momentâneas.

O princípio da Separação dos Poderes na Instituição Maçônica é cópia do modelo de Montesquieu, renomado iluminista. Criou esse sistema de Poderes do Estado, em Legislativo, Executivo e Judiciário, dentre outros diplomas das várias Potências, cada um com atribuições previstas em lei.

Mas de todas as influências iluministas na Ordem Maçônica, a que mais se destaca é seu Departamento Especulativo. Introduziu-se o estudo profundo filosófico, simbólico, esotérico, metafísico, espiritual e histórico, além de outros ramos do conhecimento humano. Principais iluministas maçons;

  • Voltaire (Paris, 21 de novembro de 1694 — Paris, 30 de maio de 1778), foi um escritor, ensaísta, deísta e filósofo iluminista francês, conhecido pela sua perspicácia e espirituosidade na defesa das liberdades civis e livre comércio. Ele defendia a liberdade de pensamento e não poupava crítica a intolerância religiosa.
  • Marquês de Pombal, (Lisboa, 13 de Maio de 1699 — Pombal, 8 de Maio de 1782) foi um nobre e estadista português. Foi secretário de Estado do Reino durante o reinado de D. José I (1750-1777), sendo considerado, ainda hoje, uma das figuras mais controversas e carismáticas da História Portuguesa. Iniciou várias reformas administrativas, econômicas e sociais em Portugal, afim de aproximar o país a realidade econômica dos paises europeus.
  • Montesquieu, senhor de La Brède ou barão de Montesquieu (castelo de La Brède, próximo a Bordéus, 18 de Janeiro de 1689 — Paris, 10 de Fevereiro de 1755), foi um político, filósofo e escritor francês. Ficou famoso pela sua Teoria da Separação dos Poderes, atualmente consagrada em muitas das modernas constituições internacionais. Ele defendeu a divisão do poder político em Legislativo, Executivo e Judiciário. 
  • Diderot (Langres, 5 de Outubro de 1713 — Paris, 31 de Julho de 1784) foi um filósofo e escritor francês. Junto com Jean Le Rond d´Alembert (1717-1783), organizaram  Uma enciclopédia que reunia conhecimentos e pensamentos filosóficos da época.
  • Benjamin Franklin (Boston, 17 de janeiro de 1706 — Filadélfia, 17 de abril de 1790) foi um jornalista, editor, autor, filantropo, abolicionista, funcionário público, cientista, diplomata, inventor e enxadrista americano. Foi um dos lideres da Revolução Americana.
  • Thomas Jefferson (Shadwell, 13 de abril de 1743 – Monticello, 4 de julho de 1826) foi o terceiro presidente dos Estados Unidos (1801-1809), e o principal autor da declaração de independência (1776). Participou também ativamente dos primeiros acontecimentos da Revolução Francesa e teve forte influência na Inconfidência Mineira e na Independência do Brasil.
  • * Cláudio Manuel da Costa (Vila do Ribeirão do Carmo, Minas Gerais, 5 de junho de 1729 — Ouro Preto, Vila Rica, 4 de julho de 1789) foi um jurista e poeta do Brasil Colônia. Participou da Inconfidência Mineira.
  • Tomás Antônio Gonzaga (Miragaia, Porto, 11 de agosto de 1744 — Ilha de Moçambique, 1810), foi um jurista, poeta e ativista político luso-brasileiro. Participou da Inconfidência Mineira. 
  • Sir Isaac Newton (Woolsthorpe-by-Colsterworth, 4 de janeiro de 1643 — Londres, 31 de março de 1727) foi um cientista inglês, mais reconhecido como físico e matemático, embora tenha sido também astrônomo, alquimista, filósofo natural e teólogo.
  • Jean-Jacques Rousseau (Genebra, 28 de Junho de 1712 — Ermenonville, 2 de Julho de 1778) foi um importante filósofo, teórico político, escritor e compositor autodidata suíço. É considerado um dos principais filósofos do iluminismo e um precursor do romantismo. Ele defendia a idéia de um estado democrático que garanta igualdade para todos.
  • Edward Gibbon (Putney, 27 de abril de 1737 — Londres, 16 de janeiro de 1794) foi um historiador inglês que expressou-se no espírito do iluminismo, autor de A História do Declínio e Queda do Império Romano. 


Iluministas se filiaram às Lojas Maçônicas como um lugar seguro e intelectualmente livre e neutro, apropriado para a discussão de suas idéias, principalmente no século XVIII quando os ideais libertários ainda sofriam sérias restrições por parte dos governos absolutistas na Europa continental e por isso certamente a Maçonaria teria contribuído para a difusão do Iluminismo e que este por sua vez também possa ter contribuído para a difusão das lojas maçônicas.

O lema, ou o símbolo, "Liberdade, Igualdade, Fraternidade" se constitui de um grupo de palavras que exprime as aspirações da Maçonaria e que, se atingidas, levariam a um alto grau de aperfeiçoamento.
Podemos concluir que O Iluminismo foi de suma importância para a evolução da Maçonaria e continua sendo.

Que possamos aproveitar essas luzes e que cada um de nós, Maçons, possamos continuar sendo Iluministas, defendendo os nossos ideais, para fazer deste mundo, um mundo melhor para todos.

Penso, logo existo. (René Descartes)

Ir.'. Carlos Vitor de Faria Silva

Bibliografia
Barsa, Revista Universo Maçônico,
Wikipédia e Textos da Internet.

SOBERBA E A HUMILDADE




A humildade é a rainha de todas as virtudes e a gratidão é a princesa. Em contrapartida o mais infausto dos vícios é a soberba, superlativo da vaidade. 
A soberba se manifesta através da pretensão, do orgulho, e de uma suposta superioridade. Ela aflora pela altivez, a autoconfiança excessiva, e pela arrogância desmedida. 
É também um vício específico, embora possa ser encontrado em todos os outros vícios, leva o homem a desprezar os iguais e a desobedecer às leis, nada mais é que o desejo distorcido de grandeza em relação às pessoas, aos grupos sociais e religiosos, e às instituições. 

A xenofobia, o racismo, o etnocentrismo, a homofobia, o elitismo e o corporativismo, são comportamentos indicativos da soberba. A pessoa soberba não tolera ser contrariada, ela sabe tudo, ninguém faz melhor que ela, e quando aparece alguém disposto a fazer qualquer atribuição ou encargo que lhe faça “sombra” logo se transforma em seu adversário ou quiçá seu inimigo pertinaz. 
E o que é mais grave, para o soberbo “os fins justificam os meios”, ele tem a necessidade de se sentir indispensável e insubstituível, sem ele as coisas não caminham a contento. Caso isso aconteça o soberbo não medirá esforços, por meio de conspiração rasteira, para “eliminar”, desmoralizar, caluniar, injuriar e difamar o intruso que ousar cruzar seu espaço e age de modo inescrupuloso e ardil. 
Na verdade o soberbo se acha no direito de exigir um reconhecimento unânime que, na realidade, na maioria das vezes, não merece ou não tem. A pessoa com esse vício não suportar a dependência, menospreza os sentimentos das pessoas, se colocando sempre acima de todos como um "ser maior".

No trabalho surge a necessidade de aparecer, de ser notado, ignorando os padrões éticos e morais, vendo os outros colaboradores ou colegas com desprezo. Aqueles com tais características que ocupam cargos elevados ou intermediários se utilizam do seu poder para impor suas vontades, manipulando as pessoas com o intuito de conseguirem que tudo seja executado, indubitavelmente, conforme seus desejos. Exigem ainda uma disciplina sem falhas, não respeitando os limites da individualidade. Não percebem que a melhor maneira de incentivar o crescimento não é impondo caprichos, mas fazer com que cada um descubra em si seu melhor potencial, pungindo a independência. Precisa fazer com que o outro se sinta remitido para sentir-se superior. Não encontramos a soberba do poder apenas no meio político ou nos cargos de destaque da administração pública ou privada. 
O poder como a capacidade de fazer com que outras pessoas ajam na dependência de sua vontade, pode ser encontrando em muitos exemplos de situações diárias: 
A dona de casa que humilha a sua empregada doméstica e exige que ela suba, sempre, pelo elevador de serviço; 
a sociedade que vê com desdém o lixeiro e o gari que varre nossas ruas; 
o superior hierárquico que sequer cumprimenta seu subalterno; 
os pais que impõe sua vontade aos filhos tolhendo a livre escolha desses, por vezes escolhendo sua profissão ou com quem devam se casar; 

o preconceito sobre a condição econômica, a cor da pele, o nível cultural, o credo religioso, etc.. Importante frisar que muitas religiões são por si só soberbas na medida em que pregam a salvação apenas para seus seguidores, todos os demais são infiéis. 
Não querer abrir mão de um poder que durante anos deu sentido e valor à vida do soberbo, pode trazer muito sofrimento.
Ninguém abre mão do poder, ou sequer, de uma parte dele, com facilidade e satisfação. A perda do poder muitas vezes é sentida como sendo algo depreciativo, fere de morte a soberba. Já o antônimo da soberba é a humildade. 
A soberba está muito distante da humildade, característica básica de quem possui algum autoconhecimento. 
A humildade revela inteligência, nobreza de alma e superioridade de espírito, boa formação de caráter e um conceito exato do que é a vida. 
“É a qualidade das pessoas que procuram estar no nível dos outros, ninguém é pior ou melhor do que os outros, todos estamos no mesmo nível de dignidade, de cordialidade, respeito, simplicidade e honestidade. Humildade é assumir, seus direitos e obrigações, erros e culpas sem resistir, agir diferente disto, é soberba e uma negação da sua origem”. 
Ser humilde é também ser grato. Agradecer sua vida a Deus todos os dias, a comida que você come, os que trabalham para que você possa sobreviver: 
o agricultor que planta, o cientista que descobre novas técnicas, a costureira que faz sua roupa, os prestadores de serviços: água, luz, telefone, cabeleireiro, médico, advogado, dentista, etc., etc.. Só os humildes são capazes de agradecer, os soberbos pensam que tudo não passa de obrigação que todos lhes devem. Parafraseando o polêmico jornalista esportivo Jorge Kajuru: “Quem não tem gratidão não tem caráter”. 

“Não há nada que demonstre tão bem a grandeza e a potência do intelecto humano, nem a superioridade e a nobreza do homem, como o fato de ele poder conhecer, compreender por completo e sentir fortemente a sua exiguidade”. (Giacomo Leopardi).

Texto do Ir.’. Antônio César Dutra Ribeiro OR.'. Vitória-ES