quinta-feira, 29 de novembro de 2012


O Segredo é Saber Como Morrer.

Invariavelmente, tenho por costume em minhas oratórias, ilustrar as mesmas com uma frase, pensamento ou alguma citação feita por algum filósofo ou escritor cuja sapiência seja por demais inconteste que a mera síntese da frase esclareça o tema sem a necessidade de se prolongar a fala.

Como o tema desta noite é por demais delicado, e por que não dizer, de difícil tratativa, resumirei aqui os ensinamentos do Grau de Mestre Maçom na frase contida em um dos livros do escritor norte-americano Dan Brown, autor de diversas obras literárias de sucesso mundial, dentre elas o famoso "O Código Da Vinci", que em seu último livro, intitulado "O Símbolo Perdido", que tem como tema de fundo a maçonaria, inicia o primeiro capítulo com a seguinte frase:

"O segredo é saber como morrer." 

Pronto. É esse o tema de hoje: a morte! E aí, vocês estão preparados?

(...   .’.   ...) 

A Morte é um dos maiores mistérios da vida, se não for o maior deles. Justamente por ser um mistério, ela é temida pela grande maioria das pessoas. A temática da morte está presente em todas as formações religiosas, devido a obscuridade que a envolve. Blaise Pascal dizia: "Tudo o que sei é que devo morrer em breve; mas o que mais ignoro é essa mesma morte, que não saberei evitar".

Para pensarmos na morte, devemos ter em vista que a mesma comporta vários níveis de interpretação e de compreensão desde o mais básico, como o biológico quando um ser vivente atinge um nível de desorganização em que ocorre a cessação dos processos vitais, passando pela simbólica podendo ser sócio-cultural, envolvendo os processos de se morrer, até a morte no sentido mais metafísico que é a morte espiritual.

A questão por si só nos causa tanto medo, que passamos a maioria da vida, e por que não dizer a vida toda, fingindo que ela não existe. Mas ela existe. Evitamos tocar no assunto, geralmente deixando discussões mais acaloradas para filósofos, religiosos ou estudiosos. Voltaire manifestava-se, ainda enfermo, quase moribundo, bradando inconformado: "Aproximo-me suavemente do momento em que os filósofos e os imbecis têm o mesmo destino."

Um belo dia, porém, quando menos se espera, ela chega bem perto de nós. Somos obrigados a encará-la de frente, em geral isso acontece quando ainda somos crianças, aos poucos, vemos partir nossos avós, tios, pais, irmãos, parentes, vizinhos, amigos, isso quando a natureza não resolve atropelar a ordem natural das coisas e muda tudo nos tirando do convívio pessoas que julgamos inaptas para morrer. Mas afinal, quando é a hora certa de se morrer? 

Relembro-vos: "O segredo é saber como morrer." 

Alguns, julgando-se suficientemente esclarecidos diriam que o segredo não é saber como morrer, mais sim saber como viver. Como se alguém, de alguma maneira, em infinita sabedoria, pudesse escolher a vida que outro queira, ou possa levar. Ledo engano. Cada um é senhor do próprio destino. Ninguém é dono da vida de outrem.

Mas talvez, para sabermos como morrer, devamos sim saber dar sentido à nossas vidas. E o que dá sentido à nossas vidas, senão o amor, a amizade, a devoção à um Ente Supremo, a caridade, a esperança, a vida em harmonia, a paz interior, enfim, a busca da felicidade? Honoré de Balzac dizia que: "O homem morre a primeira vez quando perde o entusiasmo".

Sócrates, filósofo grego, a 4 anos a.C., condenado a tomar cicuta, manteve uma serenidade única que talvez tenhamos que aprender à aprimorar, já que morrer é o destino que nos aguarda em futuro incerto, mas inevitável. Segundo ele, a morte em nenhuma hipótese poderia ser um mal, ou seria um sono profundo, sem sonhos, ou a passagem para outro mundo, outra dimensão, onde talvez possamos reencontrar todos aqueles que partiram antes de nós, e que nos são queridos. Convenhamos, até para o mais convicto dos ateus, a lógica de Sócrates, o Pai da Sabedoria, é irrefutável!

Estas considerações mostram que nós devemos criar nosso próprio sentido para nossas vidas, independentemente de essas vidas servirem ou não a um propósito maior. Se há ou não vida pos mortem só saberemos após morrermos. Tão óbvio e tão ululante, como diria Nelson Rodrigues. Se nossas vidas têm ou não sentido para nós depende de como as julgamos. A ausência ou presença de algum propósito superior é tão irrelevante quanto a finalidade da morte. A alegação de que nossas vidas são, “em última análise”, inúteis, não faz sentido, porque elas teriam ou não sentido independentemente do que fizéssemos. Questões sobre o sentido da vida são questões sobre valores. Nós atribuímos valores para coisas na vida em vez de descobri-los. Nada tem valor por si só. Nós é que valoramos as coisas. Não pode haver outro sentido na vida senão aquele que criamos para nós mesmos, pois ninguém pode atribuir valores para todas as coisas por nós. 

O que faz nossas vidas terem sentido é acharmos que as atividades que fazemos valem a pena. Nossa determinação para levar adiante projetos que criamos para nós mesmos dá sentido às nossas vidas. Sentimos que a vida é inútil quando a maior parte dos desejos que julgamos importantes é frustrada. Achar nossa vida importante ou não depende de quais objetivos importantes são frustrados. O julgamento que fazemos de nossas vidas nestes pontos é igualmente independente de a vida ser ou não eterna ou de ela fazer ou não parte de um propósito maior. Talvez o segredo de uma vida com sentido seja dar importância a aqueles objetivos que podemos atingir e minimizar aqueles que não podemos, desde que saibamos a diferença entre eles.

(...   .’.   ...) 

Em resumo: "O segredo é saber como morrer." 

Agora sois Mestres Maçons, devidamente investidos das prerrogativas que o grau lhes concede. Doravante podereis votar, ser votado, ocupar cargos, desempenhar funções, etc. Mas já provaram serem preparados para a vida maçônica pelo comprometimento que demonstraram desde suas iniciações.

Comprometer-se é mais que estar envolvido, interessado, obrigado, responsabilizado. É botar paixão no que faz, dar sempre o “algo mais”, se destacar apresentando diferentes soluções, aliando empenho, iniciativa e criatividade. Em suma, é saber dar sentido à vida. E como aprendemos hoje, saber dar sentido à vida é o primeiro passo para se descobrir o segredo de saber como morrer.

Desejo de todo coração que vocês descubram o segredo se saber como morrer. Mas que vossas vidas sejam infinitamente longas, longas o suficiente para descobrirdes.
M.’. M.’. PAngelis
28/11/12