quarta-feira, 9 de abril de 2014

O Ópio do Povo


O Ópio do Povo

Economistas mostram que o futebol faz o torcedor esquecer os altos impostos
 “A religião é o ópio do povo”, cunhou Karl Marx em uma de suas máximas mais repetidas. No Brasil, a maior nação católica do mundo, trocou-se a devoção no altar pelo futebol. Na terra de Pelé, Garrincha e Ronaldinho Gaúcho, dá-se como certo que o futebol é o ópio do povo. Será? Sim, respondem dois economistas, torcedores do Cruzeiro de Belo Horizonte. Cláudio Shikida, professor do curso de Ciências Econômicas do IBMEC de Minas Gerais, e seu primo, Pery Francisco Assis Shikida, da Unioeste de Toledo, no Paraná, comprovam na ponta do lápis que o andor da economia tem relação direta com a alienação do povo que vai aos estádios. Assim: um aumento de 1% nos dias de servidão que o brasileiro tem com relação ao governo, transformada em pagamento de tributos, gera um crescimento de 1,16% no número de pagantes em partidas do Campeonato Brasileiro. “Servidão” é uma variável econômica difundida – ela traduz o número de dias dedicados ao pagamento de impostos ao Estado, em todas as suas esferas, municipal, estadual e federal. Hoje, no Brasil, com uma carga tributária na casa dos 40%, estima-se que 120 dias de nossas vidas sejam destinadas a deixar quites as contas com o fisco. Resumo da ópera, segundo o irreverente estudo dos Shikida: o governo conquista o silêncio dos cidadãos, apesar dos elevados impostos, porque o grito nos estádios faz a população aliviar-se diante da mordida do Leão. Não há grandes conspirações para que isso aconteça, mas assim é. “O povo brasileiro não desrespeita a lei, paga o que pedem que pague”, diz Pery. “Já que paga em dia, tenta se consolar com seu time de futebol”. Cláudio brinca: “É uma maneira ruim de encher os estádios”.
 Pode-se tratar essa constatação, do futebol como válvula de escape, por óbvia. A novidade é que, pela primeira vez há cálculos sérios, de econometria, tentando explicá-la. Os dois especialistas fazem um pouco como Steven Levitt, autor de Freakonomics, best-seller mundial. De temas aparentemente banais, do cotidiano, tentam extrair conclusões econômicas. Há, naturalmente, amplas brechas para discussão, e a própria dupla admite inaugurá-la: há outras dezenas de variáveis para encher os estádios, especialmente a influência das transmissões de TV, e esse aspecto não foi medido. Sem contar a dificuldade em colher dados. De qualquer modo, o estudo – ancorado em equações complexas – é um divertido olhar para um dos problemas cruciais do País, a exagerada tributação. “O futebol é como o panis et circenses dos romanos”, diz Cláudio, referindo-se ao termo cunhado pelo poeta Decimus Junius no século II para brincar com a atávica mania do Estado Romano, tributador que só ele, de calar os súditos com circo.
Para cada 1% a mais de tributos imposto pelo Estado brasileiro
Há 1,16% de aumento da presença de público nas partidas do Brasileirão
Fonte: IstoÉ Dinheiro