quarta-feira, 26 de outubro de 2016

A IMPORTÂNCIA DO PENSAR E CONHECER-SE NA MAÇONARIA.

Todos nós aqui passamos pelo Primeiro Grau. Todos nós aqui ficamos ali, sentados em silêncio,aguçando nossos sentidos.
E se nos reportarmos ao mundo profano e fazendo uma analogia com Vida Maçônica, numa frase que muitos aqui escutaram,enquanto alunos,quando um professor dizia: “ 
Façam silêncio,senão, não irão “pegar” o fio da meada”. Em Maçonaria é a mesma coisa.
Achamos também que, quando somos convidados a ingressar nessa Nobre Arte Real, por sermos homens de bons costumes, não precisamos nos aprimorar,que não precisamos evoluir e por vezes, alguns dizem: 
“Queria ser como aquele Irmão! “ – referindo-se ao seu conhecimento em Maçonaria, mas não se esmera para tal. Pois bem, um simples exercício pode fazer a diferença: Pensar.
O Ser humano distingue-se dos demais animais pela capacidade de processamento de informações através do ato de Pensar.
Pensar é formar idéias na mente, é imaginar, considerar ou descobrir. O Filósofo René Descartes disse: 
“Com a palavra Pensar entendo tudo o que sucede em nós, de tal modo que o percebemos imediatamente por nós mesmos: portanto, não só entender, querer, imaginar, e sim também sentir é o mesmo que Pensar”. 
Pensar estabelece relações, as conceitua e encontra um significado para elas. 
Formar relações entre vários conceitos é julgar. Estabelecer o significado de vários conceitos é raciocinar. Assim o ato de Pensar implica três funções básicas: Conceituar, Julgar e Raciocinar.
O pensador mexicano Antônio Caso dizia: 
"Liberdade é pensamento. Pensamento é liberdade. Na essência do pensar está a autonomia." 
Partindo dessa última definição de que na essência do Pensar está a autonomia, na Maçonaria o ato de pensar está diretamente ligado ao postulado da Liberdade. 
Liberdade para desenvolver seus conceitos a partir dos ensinamentos recebidos, porque somos livres e autônomos para falar e assumir posições, sem afastar-nos da Filosofia Maçônica e de seus princípios.
Filosoficamente, a Maçonaria mostra ao homem-maçom que ele tem um compromisso consigo mesmo, com o seu Pensar, o que fazer de sua própria existência. 
Pois, quando o homem prescinde de si mesmo, de seus deveres, quando o homem abre mão da sua liberdade, da quantificação do seu Eu, quando o homem esquece de si próprio, está a negar-se como Ser.
Como a intenção desta prancha não é a de aprofundar a busca filosófica da Arte Real, vamos ao objetivo do Pensar e o conhecer-se na Maçonaria, especialmente ao Primeiro Grau.
O Primeiro Grau se estereotipa no “conhece-te a ti mesmo”, divisa escolhida por Sócrates. 
O grande pensador ensina ao Maçom-Aprendiz que a primeira coisa a fazer é aprender a Pensar. Aprendendo a Pensar aprende-se a conhecer, a discernir, a falar. 
Aprendendo a pensar encontraremos, sem dúvida, meios e modos que facilitam a busca, a procura, a investigação, o ponto de chegada.
Assim, nesse vai-e-vem do Pensar, nesse vai-e-vem da busca, o Aprendiz, introspectivamente, passará a conhecer-se melhor.
Conhecer é descobrir o Ser. Assim para o Aprendiz, o descobrimento do Ser é o auto conhecimento e deve levá-lo à introspecção, à análise da sua forma de vida antes da Iniciação. 
Estabelecendo a partir de então os limites entre o profano e o iniciado, corrigindo as eventuais falhas de construção de seu edifício, passando a Pensar e agir dentro dos limites estabelecidos, que pode significar simbolicamente o nascimento do novo Ser.
O Maçom estará pronto para a busca dos conhecimentos da Ordem a partir do Auto Conhecimento e da “Morte” dos resquícios contrários à Filosofia Maçônica inerentes ao profano.
“Conhece-te a ti mesmo” nos leva à conclusão de que se não praticarmos o conhecimento de nós mesmos, se não nos propusermos a esmiuçar o nosso espírito com o objetivo de melhorá-lo, com a intenção de aperfeiçoar nosso intelecto, não projetaremos em nós uma melhoria moral, não conseguiremos desbastar a Pedra Bruta. 
O Primeiro Grau é onde utilizamos com maior propriedade os sentidos da Visão e da Audição. Com eles desenvolvemos o Pensar, estabelecemos relações e comparações que formarão os alicerces do desenvolvimento e nos ajudarão nos passos seguintes da caminhada. 
Lembrando que todos iniciam na Ordem no Primeiro grau, e cada um tem seu momento de despertar, porque não existe prazo determinado para o seguimento da jornada. 
O que deve acontecer é a maturação do iniciado, uma etapa de cada vez, um degrau após o outro, e mesmo assim sem jamais deixar de ser Aprendiz, sem jamais deixar de utilizar os sentidos da visão e da audição com Sabedoria. 
Cada degrau da escada de Jacob inexiste sozinho, ele sempre será o resultado do somatório do conhecimento adquirido nos Degraus Anteriores. 
Pratique o Pensar para conhecer-se, para então buscar o diferencial, a formatação do novo Eu através do conhecimento, para a transformação, para o renascimento, para a prática da verdadeira maçonaria.
A intenção desta prancha é a de incentivar os Irmãos para o Pensar, o conhecer-se, que é em minha opinião a primeira grande Instrução do Grau, para então desbravar, investigar a verdade através da leitura, da interpretação dos símbolos e alegorias, e da troca de experiências com os outros Irmãos. 
O Pensar, nos traz a reflexão,onde através de perguntas sobre a capacidade e a finalidade humana quem movem o mundo. São perguntas que nos faz aproximar dos conhecimentos maçônicos. 
São perguntas e não respostas que nos faz evoluir. O exercício do Pensar te faz diferente, te faz Novo!
Por isso, na faça de sua vida maçônica, um conjunto de respostas, faça-a de perguntas. Só assim o seu Templo Interior terá paredes Retas, Belas e Justas. 
Portanto...Pense...Reflita...Pergunte...Evolua, pois desistir da Maçonaria é desistir de si próprio.

Autor: 

M.'.M.'.Ir.'. – Gilson Alves

Instrução apresentada em Sessão Grau 1 – 25 de maio de 2006. A .’. R.’. L.’. S.’. 

Plácido de Castro, Brasil.

Adaptação e Relator: 

M.'.M.'.Ir.'. – Ladisney Antonio Assaiante

Referência Bibliográfica: 

- Matthew Lipman – O Pensar na Educação;

- Raimundo Rodrigues de Albuquerque – Texto

- Raimundo Acreano Rodrigues –

- Pré _ Socráticos , Col. “Os Pensadores”, vol. 1, seleção de textos e supervisão do prof. Dr. José Cavalcante de Souza, São Paulo, Abril Cultural, 1978.

A DIGNIDADE DO SER HUMANO, UMA VISÃO MAÇÔNICA

Reza o ritual do Aprendiz Maçom do R.’.E.’.A.’.A.’. adotado pela Grande Loja do Estado Do Rio Grande Do Sul, que a “ maçonaria tem por fim combater a ignorância em todas as suas modalidades; é uma escola mútua que impõe este programa: (…) trabalhar incessantemente pela felicidade do gênero humano (…)”.
Mais adiante, uma frase, que particularmente reputo como uma das mais ricas e mais representativas de nossos verdadeiros objetivos: 
“ ( A Maçonaria) É uma instituição que tem por objetivo tornar feliz a humanidade, pelo amor, pelo aperfeiçoamento dos costumes, pela tolerância, pela igualdade e pelo respeito à autoridade e à religião”.
“Felicidade do gênero humano” e “tornar feliz a humanidade”. 
Não raro, em quase todas as obras e rituais maçônicos, deparamo-nos com a palavra “humanidade”. A idéia primordial do valor da pessoa humana, encontra suas origens no pensamento clássico Cristão. Na cultura judaico-cristã, notadamente no livro Gênesis, encontramos referências sobre a criação do homem “à imagem e semelhança de Deus”, premissa de que foi extraída a idéia de que todo ser humano é dotado de um valor próprio, intrínsico, ou seja, na figura de uma só pessoa humana está representada toda a humanidade.
Ao longo da história, podemos comparar a evolução da espécie humana com a idéia do que a humanidade pensa sobre sua própria condição existencial. 
No pensamento estóico, verificado nas clássicas tragédias gregas, já estava patente que o ser humano possuía uma dignidade que o distinguia das demais criaturas, no sentido de que todos são portadores da mesma, em que pese as diferenças sociais e culturais. 
Na idade média, Santo Tomás de Aquino constantemente faz apologia à divindade da “dignitas humana”. Immanuel Kant sustenta em suas diversas obras, que o homem não pode ser tratado – nem mesmo por ele próprio – como objeto, pois em si está representada toda a humanidade. Os ideais da revolução francesa, com seu tríplice “ Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, formam uma espécie de condensação de todo um pensamento filosófico produzido pela humanidade ao longo de sua existência.
O eminente Dr. Ingo Sarlet, juiz e professor de direito na PUC/RS, ensina-nos que:
“A utópica realização plena da dignidade da pessoa humana continua a ser incansavelmente buscada pelas relações sociais e jurídicas de grupos de nações e grupos de pessoas, mesmo que entre este último, inconscientes de sua própria busca”.
Quanto à característica utópica dessa busca, lembro-me vagamente das palavras de Galleano, que situa a utopia no horizonte de suas intenções. 
A cada dez passos que tenta aproximar-se desse horizonte, dez passos ele se afasta. Vinte passos, e vinte passos afastados. 
Pergunta-se: “Mas afinal, porque a busco? Qual o objetivo de sua existência, se já me convenci de que é inalcançável?” 
E responde-se: “Seu objetivo é exatamente este, obrigar-me a dar os passos.”
E a Maçonaria atual, em que ponto desta busca utópica se situa? 
Qual sua atuação no sentido de colaborar, enquanto Ordem, no reconhecimento universal da Dignidade da Pessoa Humana? 
A história é rica em relatar a participação de Maçons enquanto indivíduos, e da Maçonaria enquanto instituição, na petrificação dos ideais humanitários. A revolução Francesa, o abolicionismo da escravatura no Brasil, os diversos fatos e atos de ilustres maçons (...) são exemplos marcantes dessas intenções. 
Ao lapidar a pedra bruta em que se reconhece, o Maçom tem por dever aparar as mundanas arestas que o tornam falível enquanto indivíduo, para que em si possa espelhar todo o valor da humanidade plena. Tem por dever absoluto preparar-se para ser o ponto reflexivo de tudo que em si representa esta idéia.
Ao jurarmos:  “ … conservar-me sempre cidadão honesto e digno, (…), nunca atentando contra a honra de ninguém…”, estamos perante o Grande Arquiteto do Universo, prometendo envidar todos os esforços no sentido de valorizar um dos aspectos mais marcantes inerentes à dignidade da pessoa humana: A honra. 
Honra e Dignidade são palavras quase que sinônimas, pois encerram valores magnos pertinentes e exclusivos do ser humano.Dignidade, ou honra neste caso, são amplamente garantidas na Carta Constitutiva do Brasil, e em quase todas as Constituições do mundo livre, em suas cláusulas imutáveis, ou pétreas. 
Mas como transformar a utópica afirmativa impressa na Constituição em fatos concretos, no nosso dia a dia? Não podemos mais, a exemplo do passado, destinar o Tronco de Solidariedade para a compra e alforria de um escravo, ou fomentar revoluções libertárias no interior de nossos templos. Não podemos mais ficarmos adstritos aos Templos, enquanto lá fora a sociedade a qual pretendemos modificar através de nosso interior aperfeiçoamento, peca pela omissão quanto ao respeito a essa Dignidade.

(...) 

Mas a Maçonaria, se não esquecesse que a utopia é inatingível e não desse os primeiros passos rumo ao horizonte utópico, não teria como contabilizar entre seus feitos, uma revolução francesa, uma abolição da escravatura, e tantas outras ações tomadas a partir de um ideal humanitário. 
A nós, modernos Maçons, restam ainda muitos caminhos a serem trilhados. Se, unidos tal nossa simbólica Cadeia de União, agregarmos esforços conjuntos e reconhecermos nosso papel na luta pela Dignidade da Pessoa Humana em termos contemporâneos, ou seja: a garantia à vida, à saúde, à alimentação, à moradia, e à uma existência plena, estaremos justificando às gerações maçônicas passadas, e quiçá, às futuras, nossa razão de existir.
A proposta atual, e factível, é a educação da geração vindoura. Que nossas Lojas, nossos Maçons, (...) possam trabalhar valores que, num contexto a médio e longo prazo, farão a diferença na plena, e aí sim, concreta, valorização da Dignidade da Pessoa Humana. 

Que assim seja.

Autor: 

Ir.’. Marcio Ailto Barbieri Homem

Adaptação e Relator: 

M.’.M.’.Ir.’. – Ladisney Antonio Assaiante